quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

40 ANOS DE POESIA DE OSVALDO RODRIGUES



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40 ANOS DE POESIA DE

OSVALDO RODRIGUES – AINDA EXISTEM POETAS


Eis uma trajetória poética das mais dignas, descrita nesta antologia de 40 anos de poesia, “Tudo aí”, lançamento da Editora Penalux. Osvaldo Rodrigues é um poeta de inteira dignidade diante da poesia e dos poemas que escreve. No Brasil está muito difícil encontrar poetas assim, que se deixam sentir, o que parece estar proibido neste vale de lágrimas que é a poesia brasileira, sem generalizar. Mas o que está valendo atualmente é ser “poeta” que, no fundo, não sabe o que é poesia, o que é sentir o mundo. Tem-se que escrever poemas com um fio de prumo, tijolinho em cima de outro tijolinho, utilizando régua e compasso. Esse “poeta” tem de ser, antes de tudo, um mecânico, um engenheiro ou qualquer coisa que o valha. Dizer, por exemplo, que poesia produzida assim “não tem alma” provoca um risinho cínico e irônico dos tecnocratas da poesia, mesmo que esse “não tem alma” seja utilizado como força de expressão. Infelizmente, a maior parte da poesia brasileira hoje é produzida por tecnocratas da palavra. Esses que enaltecem nomes como verdadeiros magos da poesia e do poema mas que, na verdade, representam uma nulidade, com muitas experiências formais. Não produzem poemas poéticos, mas pedras de gelo enaltecidas por uma universidade e um jornalismo cultural indecentes. A poesia brasileira está cansada desses endeusamentos inúteis feitos por uma gente que não tem o que fazer da vida. Não é o caso de Osvaldo Rodrigues que, neste volume, reúne uma obra poética de grandeza, de poesia verdadeira, de poesia de sentimento, da palavra que explica essa fotografia que só um poeta de verdade consegue observar descrevendo suas nuances. Uma poesia humana. Uma poesia escrita por um poeta, não por uma máquina. Um poeta que não ignora a vida. A poesia do homem pelo homem e para o homem. Osvaldo Rodrigues é um poeta que acredita que o corpo é uma casa sagrada, o que está correto. Por isso ele é o poeta que é. Essa trajetória digna começou no final dos anos 70 e segue até hoje como poemas dos mais significativos da poesia que se produz neste país, não fossem tantas as inversões de valores irresponsáveis e inconsequentes de alguns que, circunstancialmente, ditam as regras no jornalismo e nas universidades. Osvaldo Rodrigues deixa clara sua vida de poeta em muitos momentos deste livro e o faz em forma de poema, com poesia. Por exemplo:

 

o que quer que eu diga

o que quer que eu faça

o que quer que eu escreva

não será suficiente

para dimensionar o meu ser

 

Não são todos os poetas capazes de abrir assim sua palavra para situar-se diante dele mesmo. Para isso é preciso ter certeza do que se deseja na poesia que não é essa farsa hoje presente em quase tudo. Há de se destacar os belíssimos poemas escritos com palavras que começam com a mesma letra, do começo ao fim. Essa é, sim, uma poesia de sentimento. Os tecnocratas se zangam com afirmação assim. Ficam zangados porque a ordem é escrever poemas que não provoquem nada, que não fazem pensar, refletir, reler, analisar. São “poemas” que, na verdade não existem. Os tecnocratas das universidades e do jornalismo literário exigem isso, e os carneiros obedecem. Mas nem todos são carneiros, preferem ser poetas.

Os poemas que o poeta Osvaldo Rodrigues chama de “poemas-anúncios” são a prova desta bela poesia, essa poesia que hoje se esconde dos facínoras da palavra e se mostram somente aos poetas de verdade.

 

Constroem-se casas

com dois ou três andares de solidão

sacadas com vistas para o infinito

serão aceitas duplicatas de sonhos

ou moeda cunhadas por querubins

como forma de pagamento.

 

O que dizer de um poema assim? Não há nada a dizer, senão envolver-se no sentimento do poeta diante do mundo. A trajetória do poeta Osvaldo Rodrigues segue essa trilha desde a adolescência, seus poemas escritos aos 15 anos. Não é para qualquer um. Só um poeta verdadeiro tem a trilha para seguir sempre assim, na descoberta da palavra, da poesia, de si mesmo, sem dar chance nenhuma às facilidades reinantes neste país infeliz que é o Brasil. Nestes tempos brutais, repleto de tecnocratas do poema, ter em mãos este volume de 40 anos de poesia do poeta Osvaldo Rodrigues representa um momento especial e de alento. Nem tudo se perdeu.      

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